Os verões que trago dentro de mim...

E passavam os anos, os dias e ela iam caminhando, tentando encontrar nas luzes dos postes acesas, algum motivo para reflexão. Buscava talvez, algo que a acendesse, como o mercúrio que acendia a lâmpada e a fazia a dona do brilho, da beleza e do calor, buscava algo que a acendesse, que desse a ela uma luz, que a fizesse toda iluminada, aterrorizada com suas danças na frigideira e no fogão.
Queria uma cor que não fosse a dela, um pouco, já que crescera com a idéia de que mulher em cor é mulher vulgar. As marcas avermelhadas em seu rosto já denunciavam, em cada traço , em cada linha desenhada pelas mãos do tempo no sertão que era o seu rosto, apenas o desejo, apenas a procura de uma cor fria que preenchesse esse vazio de mágoas, sombras e ressentimentos.
E ainda se sentia orgânica, observava as árvores verdes a balançar, e sentia nelas um pouco de esperança, observava-as na frente de sua casa, repleta de pássaros cantando de manhã e verde a balançar, era acordada todos os dias com essa dádiva: ouvindo o canto dos pássaros.
O verde para ela era a mais profunda representação da esperança, a mesma perdida nos olhos verdes e vazios de seu filho, perdida nos labirintos humanos, por entre veias, ternuras e esquecimentos, por entre águas e frio.

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