Co-Mente com: Vinicius Arneiro.



Vinicius Arneiro é ator e diretor do Grupo de Teatro Independente do Rio de Janeiro, concedeu essa breve entrevista em uma vinda à Natal para um curso de leitura dramática, tem 25 anos, natural da Cidade de Comendador Levy Gasparian, chegando em Três Rios, aos 13 anos de idade, com desejo de fazer teatro, onde conheceu o diretor Rodrigo Portela, e no mês seguinte, entrou no curso de teatro se formado pela Escola de Teatro Martins Penna, em 2006.


De jeans e camiseta, pós-oficina do SESC – Leituras Dramáticas em Natal Vinicius se mostrou muito simpático aos trinta minutos de entrevista bem humorado e sensível ao momento que ele define de “trânsito” em sua vida.


Thiago Medeiros: Onde a dor tem razão?


Vinicius Arneiro: é uma razão inversa acho que onde há dor, há razão. É uma memória que seu corpo cria, lembra, há um complemento nelas.


Thiago Medeiros: Seus trabalhos em um curto espaço de tempo ganharam uma projeção muito grande entre eles o espetáculo “Cachorro”, que em 2007, chegou a ser indicado ao prêmio Shell por melhor direção. 
Houve um trabalho intencional em criar “produtos” que agradassem o mercado?


Vinicius Arneiro: Acredito que tudo que surge é conseqüência de um trabalho onde há verdade, coerência e tempo gasto. Ele cria uma força e vai adiante! O que aconteceu comigo e com meu grupo, foi uma sucessão de coisas felizes muitas coisas chegaram até nós: Os festivais, as oportunidades, a oficina do SESC.


Thiago Medeiros: Como o teatro chegou até você? Ou você chegou ao teatro? Quando começou?


Vinicius Arneiro: Comecei com 13 anos, fui atrás do teatro. Morava em uma cidadezinha chamada Comendador Levy Gasparin que não tinha cinema, nem teatro. A única fonte de arte que tinha era uma micro-locadora de filmes. 
Fui pra cidade vizinha Três Rios onde encontrei o diretor Rodrigo Portela, que me falou como seria esse “fazer” teatro. 
Me interessei e pedi que na outra turma me avisasse, no mês seguinte, abriu uma turma e eu entrei.
Lembro que eu gostava de brincar de teatro. A a gente escrevia, ensaiava. Não apresentávamos pra ninguém, era uma brincadeira que eu gostava.


Thiago Medeiros: Fale um pouco da sua relação com o Teatro: dirigir, atuar?


Vinicius Arneiro: Eu sou ator! Diretor aconteceu.
Me dediquei muito ao trabalho de ator, meu diretor é ator. 
Isso me fez ter uma preocupação grande com o ator, adoro pensar na iluminação, no cenário. Pensar com a equipe.
O ator é a matéria prima no texto e no corpo bem cuidado. "Cachorro" dirigi e acompanhei todas as apresentações, depois precisei atuar, aí pude sentir como tinham sido as minhas idéias. e como você dá verdade ao texto!


Thiago Medeiros: O que mais te instiga a montar um texto de teatro?


Vinicius Arneiro: É mutável, sou apaixonado pelo que faço! Vou amadurecendo o olhar e reconhecendo a importância das coisas, depois volto atrás. É volúvel.
O que me interessa hoje é: o texto por si só! Ele poder dar contar sem intenção de resolver, que ele seja uma potência, precisa dialogar com a existência, com o que é humano. Refletir sobre a condição de amar e odiar as coisas e as pessoas. Um texto que eu quero montar é “Fluxorama” de Jô Bilac, tenho necessidade de falar o que é dito nele.


Thiago Medeiros: Qual a importância da palavra/texto pra você?


Vinicius Arneiro: Existem diretores que dão descaso a palavra para afirmá-la, eu acredito na palavra como a primeira forma de comunicação. A partir dela cria-se um clima, uma atmosfera, a complexidade para uma história. 
A capacidade de se emocionar – não chorar, com o que ela está dizendo é incrível.


Thiago Medeiros: Você acha que existem pessoas que se interessam por teatro?


Vinicius Arneiro: Acho! Às vezes sinto que é muito centralizada, são apresentações para  guetos. Saber qual é o povo que está assistindo aos espetáculos. Acho que apresenta-se muito para um público seleto, pra quem já faz teatro.
Ma isso é pontual, acho que existem pessoas interessadas sim!


Thiago Medeiros: Quais as suas referências teatrais hoje?


Vinicius Arneiro: Difícil! Posso citar: Henrique Dias da Cia. dos Atores – RJ ele é um dos diretores mais inquietos que eu conheço e ligado no que deve ser um teatro contemporâneo que saia do blá, blá, blá, gosto de quase tudo – se não tudo, que ele faz.
Acho o trabalho do Felipe Hirche – SP mais estético. De fora do país cito Bob WilsonMinhas referências, às vezes estão mais do cinema.


Thiago Medeiros: Fale um pouco do seu processo de criação?


Vinicius Arneiro: Cada processo exige uma forma, cada texto exige uma forma de olhar para ele: técnica, linguagem, estética, relação com a obra!
Começo sem texto, parte de uma pesquisa particular a partir de referências de alguém quadro, filme – exemplo. A partir disso, vai pra cena, o que essas referências me dão de imagens pra uma composição, depois entra o dramaturgo para comungar com o clima instigar o texto. Até formar uma coisa que interesse a todos e daí começar.


Thiago Medeiros: É fácil fazer teatro no Rio de Janeiro?


Vinicius Arneiro: Não! É bem difícil, o Rio de Janeiro não tem uma política cultural que compreenda suficientemente a emergência de cada artista, não dialoga com quem faz cultura. O meu grupo e eu vivemos de cultura, mas o Rio de janeiro não nos mantém, vivemos de teatro viajando por outras cidades. 
A Cia. dos Atores é um exemplo há vinte anos eles trabalham no Rio, são importantes pro Brasil e, mesmo assim, não são patrocinados pelo estado.
Acho que isso se deve também, a pouca articulação do meio artístico não há  entrosamento, pouca mobilização.
As pessoas que cuidam do dinheiro não se sentem impelidas a compreender a classe.


Thiago Medeiros: O que você acha do Brasil ter uma mulher na presidência da república?


Vinicius Arneiro: Acho que foi um golpe inteligente. Acho que o Brasil pode viver esse momento pós – Lula ele estruturou o país pra isso se fosse em outra era jamais isso seria possível! Se fosse pós – FHC, Collor, ou de algum outro governo do PSDB, por exemplo.
O governo Lula foi exemplar ele elegeu alguém por credibilidade, independente de ser mulher, ou homem, ele tem credibilidade com o povo e agora é o momento de mudarmos o olhar em relação ao governo.


Thiago Medeiros: Vinicius, você tem andado muito pelo Nordeste o que tem achado das produções artísticas que tem visto?


Vinicius Arneiro: Acho o Nordeste impressionante pela capacidade e simplicidade de relacionamentos e pela forma que escolhem se comunicar na dança, no teatro, na música...
Passei uma temporada em Fortaleza e há muita gente interessante, há uma coisa que não está impregnada das grandes metrópoles,  tem uma forma de viver mais simples, mais afetiva, tem sensibilidade ao outro. Em São Paulo, por exemplo, os encontros acontecem, as relações também, mas são por outras vias. Há uma visão muito simples no Nordeste sem ser simplório!


Thiago Medeiros: Cite: uma cor, comida, cantor?


Vinicius Arneiro: Azul. Macarrão ao molho branco e Fuji. Caetano Veloso.


Thiago Medeiros: Você usa a Internet em seus trabalhos? Como?


Vinicius Arneiro: Sim, pra ter acesso mais rápido com as pessoas, pra divulgar o que estou fazendo, proliferar o que vale a pena e fazer o movimento inverso, também.


Thiago Medeiros: Cite cinco lugares pra conhecer no Rio de Janeiro:


Vinicius Arneiro: Praia de Botafogo até o aterro do Flamengo. Cinelândia. Restaurante Miam Miam. Jardim Botânico e  o bairro de Santa Teresa.


Thiago Medeiros: Contato?


Vinicius Arneiro: www.teatroindependente.com.br

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