Duras ou ClariceAna.

Caminho cheia de dor. é preciso aquietar o coração para que o corpo e a cabeça aguentem. caminho pela rua cheia de gente, queria uma planície onde pudesse andar sozinha, sem interferências ou referenciais.
hoje me chamo ana, poderia me chamar clarice... são dados, muitos dados, tenho medo que os dados e os números sobreponham meu sentidos e me desorientem. 
pela rua, muita gente parecida. não, ninguém se parece comigo.
fumo cigarros, discreta, quem em vê acha que sou puta, pareço arrogante. estou mesmo é distante. morrendo e vivendo lutos.
uma mulher sozinha, tentando parar a dor de um enterro, eu digo.
nenhum nome na lista, no patrulha, no itep.
nada de reconhecer corpo, uma hora dessas já transformaram até os ossos.
preciso viver o luto, mas eu quero isso sozinha. assim como eu te quis pra dentro, quero doer sozinha, querendo aquietar noites e dias em que eu sozinha, desejava a sua morte - eu já me perdoei, não há Deus que queira me salvar - em alguns dias, me chamo deus.
e quem me vê assim, invisível, não sabe nada.
hoje me chamarei clareana, amanhã deusimar e depois alguém me dará unguentos suaves dentro de mim, em cima da minha cama, que foi tua, que foi nossa.
odeio não encontrar o seu corpo, viverei o luto de um morto inexistente. de olhos fechados e com outro homem em cima de mim, eu abro as minhas pernas, minha boca.
para que eu viva o luto da tua saliva branca dentro de mim.
para que você não suma
para que você não morra
para que você vá

(...)

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