memórias do mar ou salgação do mar
acho que o mar tem apagado
as minhas memórias
toda vez que a onda bate na areia da minha pele
imagens se vão
e o meu corpo - caixa de memórias
ficam limpas para outras pegadas
os marinheiros podem me consumir
nervuras
e me comer com suas velas e dentes
a cada dentada - onda
uma parte minha se vão
tenho entregas secretas
a sábios marujos
que me ensinam com suas enormes varas
a pescar peixes e orgasmos
na nudez de dentro de mim
e eu - flor salinizada
tal pedra
tal lágrima
espero sentada em cima delas
o próximo surfista escondido me surfar as entranhas
nunca vi a cara desses homens
as ondas apagaram os meus registros
arranhei-os
cortei-os
aos pedaços
tal ostra
como um pedaço das minhas lágrimas
enquanto me abocanhavam o corpo
sereia - iara -
que tantas vezes quis encantá-los com minha voz
havia sempre uma pressa das ondas em levá-los
ficaram todos na minha garganta como uma gala salgada que dá sede
como um nó de marinheiro que capitão nenhum
soube desatar
as ondas levaram
minhas memórias
meus afetos
meus gemidos
estou eu dura estátua
de pedra
esperando
(...)
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