amor ou poesia

estávamos eu e um amigo em qualquer um dia desses em que a tarde nos chama e a gente precisa sair pra oxigenar os dias.

até que chegamos a uma questão recorrentemente interessante: intensidade:

- você precisa ir com calma, buscar equilíbrio, fumar menos, colocar menos maionese na pizza (e comer menos pizza, inclusive), não exagerar na manteiga, no sal, no café, no cigarro, no queijo.

- no queijo?

- sim, tudo demais é muito. pra que viver como se cada dia fosse o último! você é muito louco! demande menos das pessoas, inclusive! deixe que elas "venham até você"

- certamente você deve ter razão, sinceramente!

e a conversa mudou o foco, o ritmo, demos mais um milhão de risadas, de brindes, de cigarros, de copos brincando de encher e secar, como a maré entre noite e madrugada.

e entre as palavras soltas que surgiam e uma outra (várias) idas ao banheiro. só vinha na minha mente um dardo certeiro: menos   menos   menos   menos (menos é mais, confesso que nunca entendi bem isso).

refletindo hoje depois do dardo ter sido certeiro na alma, penso que o amigo tinha toda a razão do mundo e fico imensamente agradecido pela preocupação (isso está ficando cada vez mais raro).
confesso, sinceramente, que gostaria de me tornar pelo menos um pouco de toda essa sua exortação.

ainda na mesma semana, comprei uns pães para tomar um café da tarde e jogar palavras pro ar e me chamou atenção um outro amigo: como ele colocava tanta manteiga no pão francês fresquinho que acabara de chegar e que ele juntava ao café, também fresco.

me atrevo a perguntar: porque você coloca tanta manteiga no pão? ele, serenamente como as pessoas mais velha fazem me respondeu:

- o gosto da manteiga com pão e café me lembra a minha infância, a minha mãe e os meus irmãos menores ao redor de uma mesa, no quintal da minha casa. todas as tardes eu gosto de me transportar pra lá pelo gosto.

outro dardo certeiro ao que eu estava, timidamente pensando entre uma conversa e outra, refletindo. agora por um outro ponto de vista? o que pensar agora, meu Deus?

acho, meu amigo que é isso: eu gosto de sentir o gosto das coisas, às vezes mais sereno, em outras mais intenso, noutras mais agressivo, educado ou não. gosto e sentir o gosto das pessoas na minha rotina, gosto da interferência delas em meu cotidiano. sei que exagero nisso da mesma forma que exagero na maionese, no cigarro, na pizza, nas saídas, nas risadas, no amor, no perdão...

é tão complicado entender que não podemos determinadas coisas, não podemos viver. e não há regras (alguma). segundo algumas teorias que eu conheço, todos temos o mesmo fim.
segundo o poético vinicius: a vida é encontro, embora haja tanto desencontro pelo meio do caminho. segundo alguns teóricos-amigos, a minha vida segue um ritmo e um percurso muito distinto das suas, o que eu acho ótimo (exercitemos a diversidade).

meus amigos, garanto uma coisa: enquanto o exagero for o da presença, o da intimidade, o da briga, o do amor e do afeto gratuitos, estaremos no caminho do equilíbrio e da evolução.

"não pare não pense demais
a vida é cigana..."

eu quero emendar a minha vida com quem toca a minha alma, porque pela metade, eu não sei estar nem na minha casa.

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