Tempo.

Não sobrou nada
na dispensa
dentro das malas
as teias de aranha
o sal que paira pela cidade
enferrujaram tudo
embaçaram um caco de vidro
que restou da janela
mirando o infinito
com o rio que corre lá fora
não sobrou nada
dentro dos corações
desaquecido pela ausência
depois dos infinitos anos
tecidos a pó, a fumaça, a velhice
o amor secou, mas permanece ali
o que fazer de nós?
o que fazer agora com essa ausência
agora cheia de fome real
daquelas que impedem sonhar
as contas do dia, o amor acomodado
as palavras que já não conseguem
soprar poesia
e todas as dores
depois do outro dia
nestes tempos em que nada sobra
nessas horas em que tudo falta
moedas, palavra e sobra quatro colheres rasas pra o café do dia
que tomamos sem açúcar
num jeito de não esquecer
quem restou de mim neste dia
...

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