Zero

ficar a zero de si, mesmo quando todo
marco zero aponta começos
não tem nada que tenha fim
zeros de início
e uma estrada sem fim
não esqueça de levar uma garrafa d'água
qualquer relaxante muscular

não esquece que dentro do zero
alguém te esconde algo
mesmo que seja você
no marco zero de si
escondido
escondendo
aprendendo
que aprendeu a fazer coisa pouca
e achava que era natural
no zero é diferente
e a gente nunca sabe dela
em qual horizonte de partida?
qual aplicativo
e de quantas memórias terá sido feito, feita
no marco zero de si
é adentrar aquele trem
sem homem aranha, sem manha e sem mãe
se segurar entre o analógico
apostando ser digital e a bola da vez
e ficar a zero de si sabendo que ninguém morreu
desamarrar os nós
desmamar dos amores que inventa
porque sabe mesmo que tá tudo uma merda
e amor ta cada vez mais distante do ali
a zero bala
de mais uma balada do lado de lá
voltando sem luz, sem memória, sem tostão
estar a zero de si
se imaginar no entre
os trilhos que quase entram (mas não adentram)
o beco da quarentena a meia noite
ficar a zero de si
é não ter vergonha de dizer:
eu tenho medo porque na rua vazia no entre
nem poste te salva (e ainda há que dizer que não acredita)
em salvação, em solução
ouvir bem nos desertos se torna
mais um zero
mais um Thiago ou José, ou João
sem saber se está cansado
contando o tempo em 365 dias
e achando que tá longo
ficar a zero e no ponto máximo
aprendendo a mentir e a fingir
(e mesmo assim procurar motivos para acreditar)
teatro, amigo e palavra
ficar a zero sem toalha, sem cheiro, sem tempo
morgar de povo e viver no dentro dele
esquentar um resto de leite de saco
que a mãe escondeu
está a zero é saber que na sua casa, na sua vida e na vitrine:
nada é seu

mais um café sem tempo
(continua)
...

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