o amor que. eu não ouso. dizer. o nome.

a casa da amiga se amplia. fumo um (coisa extra habitual), tomo três cervejas e me lembro do gosto que eu gosto.
agora é fim de tarde e a casa é perto de um morro cheio de verde, de aves, numa tarde nublada. é maio de 2016.
tomei café fumei mais um (por força do fogo), tomei um banho, duas xícaras de café, essa sensação que eu gosto.
(ah, essas pessoas com lua em áries, não ficam um minuto sem uma roncha na canela).
pensei em você, visualizei seu rosto, seu corpo (eu sei de tudo no teu corpo).
pensei em te encontrar mais tarde, mas sei que é efeito da maconha e que isso pode não acontecer. 
pensei nos três anos (não) vividos, ou amedrontados entre esta sombra, pensei no que não podes dizer, no que não quero, também, dizer.
todos os centímetros de mim sabem da sua existência, eles nunca vão esquecer esse acontecimento de você na minha trajetória.
sei que não podemos ser de todo, nada - nunca volta atrás, para quem nasceu ao meio dia em um agosto qualquer.
é de tempo que te falo, silencio e escuto o silêncio das aves cantando no quintal perto, mas longe daqui.
visualizo sua imagem e com ela respiro e saio para encarar uma plenária (sei que eu não vou chegar até ela).
sei que vou me perder entre o fim de tarde e qualquer amigo, em qualquer bar do centro da cidade.
sei que disso você também gosta, mas há de se ter coragem para andar sem nada; há se ser mais fogo do que terra. 
há de ser como somos, sempre com os piscas alertas, dobrando esquinas opostas e chegando, por sorte, em algum canto da cidade.
nesse qualquer canto, há de ter um letreiro invisível e lembraremos em silêncio, remoçando o dia em que estivemos ali.
e lembraremos que nem sempre as coisas boas da vida guardamos. 
rasgamos feito testa, feito carne, feito poema escrito e guardado (que é quase um rasgão).
a gente vê depois que amor não tem culpado, mas pisca - alerta para nos dizer gritando, ou baixinho que estamos vivos.
somos experimentos de existir e nunca conseguirei te dizer todas essas palavras com alguma doçura, mas escrevo que é para não me esquecer - QUE NEM SEMPRE AS COISAS BOAS DA VIDA LEMBRAMOS, mas eu esqueci, eu sempre me esqueço.
somos experimentos existindo em alguma espécie de bicho que não se sabe dar nome.
e mesmo desconfiando que atrás de cada palavra há um corpo, permanecemos calados, corpo a corpo diante e sabemos do grito abafado:
dos amores que não ousamos dizer o nome.

...

Tirol, alguma quarta de maio, de 2016.



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