Ramon R.

Uma carta para Ana
Ana, que nem você, eu também nunca fui de digestão fácil. Hoje é seu aniversário e você não existe mais. Você aos 16 diria que a morte era muito mais gostosa recheada com marchemélou – e bem que seu voo podia ter sido rumo a uma piscina de bolinhas; ou de marchemélous. Se estivesse viva, quem sabe não me orientasse na PUC?, não dissesse o que pensa de minha visão sobre Clarice?, não brigasse falando que meu texto expõe demais os beijos, que o mundo não é tão blue? Ana, que nem você, eu também não faço concessão. Para a gente, o azul é lindo, mas nunca foi a cor mais quente. É frio estar só. Alguns não passamos de anjos que registram, desses tortos que vivem nas sombras. Jurandir diz que precisamos aprender a morder o mundo com mais força. Mas alguém assim chega a perder o paladar de tanto pensar que come. Essa vida não passa de fracassos disfarçados de alimento.
Isso nos vai dilacerando. Você até diria que o coração só constrói decapitado. Talvez textos. Talvez lindos.
Mas mesmo então os urubus não comparecem.

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