de Luiz Renato Almeida.

Tento transpor, desde quando,
Minha face sobre a tua
E tomar-lhe as dores incrustradas.
Mas os impossíveis limites do corpo
Cambaleante corpo material
Me impedem tal ato simplório
Tento entender, desde quando,
O que fez o ódio abancar-se
Permanente, nas ruas de nosso dia
Mas aí é coisa complexa
Para olhos tomados de poesia.
Mas saiba, poeta,
Que esse sangue que tu pariste
Que manchou a parede do dia ontem,
Que a dor que sentes, poeta, aguda,
Se presos no invólucro de teu corpo
Transbordam nas possibilidades da alma
E se fazem um, um só, ao de tantos,
numa poesia universal, imensa,
E se rara, não rarefeita, densa,
E se imaterial, entretanto sólida
Se invisível, presente, água transbordante
Pão do qual nos alimentamos diariamente
E único alimento possível
Nesse nosso cotidiano árido.
Choro aqui, longe, poeta,
Lágrimas para tua aquarela.

Comentários

CurAtivos