S O B R E R E Q U I N T E S.
Era sábado e como há um tempo era chegado o dia mais triste da
semana. No meio da casa que já dava indícios do tempo batendo em suas paredes,
deixando à mostra um punhado de barro vermelho entre suas paredes descascadas,
deixando também à mostra as tintas que revelavam muitas histórias entre os
buracos na parede.
Era sábado chuvoso e tanto chovia fora quanto dentro. De
quem? A casa demonstrava o que os habitantes dela representava talvez uma decadência
anunciada pelas tantas perdas.
Havia uma nova integrante em meio aquele caos de sempre: a
comida servida com o feijão de ontem, a asia de sempre.
A menina procurava um requinte naquele estado de lama que se podia
pegar com as mãos e pregava os pés no chão melecado de passos casados, respiros
longos.
Pelas paredes as águas escorrem e a ausência de zarcão na
bica me faz lembrar meu pai. Uma ausência descabida em plena ressaca de
carnaval. Como cigarro faz lembrar minha mãe.
Mas não era isso, a menina procurava um requinte de ouro e
dentro do abrigo da casa velha se encontrava fartura de corações em desalinhos,
desesperados suportando tudo nos nadas seguidos e diários, esperando a morte
mesmo em vida.
A decadência visível é fartura do que se escapa aos olhos.
Era sábado chuvoso e ninguém sabia muito o que fazer. Permanecer em silêncio,
cada um em seu canto procurando o ouro – matéria prima do que se faz gente.
Desejando encontros a sair dali, daquela margem. Seis
cervejas na geladeira, a novela passando e a sensação de estar todo mundo ali
perdido. Perdido de ser gente, pedido de ser gente, em busca de um lugar onde
aquecer as mãos.
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